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Entrevista com César Divino, um dos vencedores do Prêmio Solano Trindade 2024

Em 21 de novembro, a partir das 19h, a SP Escola de Teatro e o Selo Lucias lançam o livro Eternizar Em Escrita Preta – Volume 5, livro que compila as três dramaturgias vencedoras do Prêmio Solano Trindade 2024.

O novo volume traz as criações dos três premiados em 2024: César Divino (Minas Gerais), com o texto “Memórias de Um Afogado”; Michel Xavier (São Paulo), com o texto “Boreta”; e Monize Moura (Sergipe), com o texto “Depois da Fronteira”.

No dia, o livro será distribuído gratuitamente ao público e também estará disponível para download na internet.

O ator César Divino, estudante de Humor da SP Escola de Teatro, é um dos vencedores. 

Natural de Nova Lima (MG), César é teatro-educador, escritor, dramaturgo e pesquisador. Além de estudar na SP Escola de Teatro, é graduando em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Possui formação técnica em Teatro pelo Teatro Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais. Fez parte, como ator e pesquisador, dos coletivos teatrais Coletivo Impossível e Coletivo Akofena.

Confira a entrevista com César Divino:

O seu texto vencedor foi “Memórias De Um Afogado”. Pode nos contar um pouco sobre ele? O que os leitores podem esperar quando o livro for lançado no próximo dia 21? 

O texto vai contar a história de Jonas, um ator não tão bem-sucedido, que um dia decide comemorar seu aniversário, mesmo não sendo muito fã de festas de aniversário. Sem muito dinheiro, faz uma comemoração simples e decide convidar alguns amigos de longa data. No texto, há uma mistura de relatos desses amigos sobre a vida de Jonas com os relatos do próprio Jonas. Os leitores podem esperar um trabalho que foi desenvolvido a partir do local da memória, no campo da autoficção. O tema é forte e traz questões como saudade, tristeza, depressão, a vida do artista e suas dificuldades.

E como foi seu processo de escrita para criar “Memórias De Um Afogado”? 

O texto tem sido escrito há muito tempo. Sempre vi a escrita como um lugar de reflexão, busca e refúgio. Sempre escrevi em muitos cadernos, buscando novas vidas, possibilidades, pensando em personagens para além do César. Esse texto passou por muitas versões e ensaios, permaneceu sem fim por muito tempo, mas recentemente consegui finalizá-lo.

Quais são as suas grandes inspirações artísticas que agregam no seu trabalho dramatúrgico e também como ator?

Na escrita, ressalto Alice Walker, Luz Ribeiro, Clayton Nascimento, Grace Passô, Rosane Svartman, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Frantz Fanon e bell hooks. Essas são pessoas que revisito todos os dias. E, como citado na minha peça, tenho admiração por Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. E não é que gosto de puxar sardinha para os autores mineiros, mas os mineiros têm um jeito muito específico de escrever, carrega com eles afeto, saudade, riso e pão de queijo. E ler esses autores me faz lembrar de onde vim, me reconecta com minha família.

Como tem sido sua experiência no curso técnico de Humor da SP Escola de Teatro? Como o curso influencia na sua dramaturgia?

Antes da SP Escola de Teatro, eu já vinha de uma formação técnica em teatro universitário, na UFMG, e trabalhava em dois coletivos teatrais em Belo Horizonte. Eu sempre gostei muito de estudar, acho que atores precisam estar em constante estudo e aprendizado. Na SPET, optei pelo Humor, pensando em ampliar minhas linguagens. Tenho aprendido muito com meus colegas e formadores, ganhei grandes amigos aqui. Na escrita, o humor me influenciou ao me mostrar as várias linguagens possíveis para as artes: palhaçaria, humor drag, humor nonsense, humor crítico, humor pesquisando o racismo (a pessoa negra dentro do humor, como alvo dos outros e como criadora do humor) etc. O humor contribuiu muito para meu texto porque trago a base da comicidade para tratar dos temas da peça. Em várias passagens, o personagem Jonas lida com esses elementos humorísticos.

Por que você optou por seguir a carreira de escritor, para além do seu trabalho na atuação?

Minha opção pela escrita foi muito natural. Já escrevia desde a adolescência para expressar muitos sentimentos. Quando descobri o teatro e decidi ser ator, também decidi que colocaria lado a lado atuação e escrita. Sempre fui apaixonado pelas histórias das pessoas e tenho paixão pela vida, inclusive acho que isso me fez buscar também o curso de Filosofia. Ao longo dos anos, fui amadurecendo meu desejo pela dramaturgia e meus estudos na escrita, e isso culminou no prêmio. Sigo com muita vontade de continuar escrevendo e estou com novos projetos na área.

Quais dicas você daria para outras escritoras e outros escritores negras e negros que estão começando suas carreiras e desejam escrever novas peças, desejam participar do próximo Prêmio Solano Trindade? 

É importante que as escritoras e escritores negras e negros escrevam, pois há uma infinidade de experiências entre as pessoas negras. Há muitos temas gerais aos quais nos conectamos e nos identificamos, mas também há muitas experiências únicas e subjetivas. Então a escrita negra plural é essencial. Tenho falado aos meus colegas na SP Escola de Teatro para escreverem, para tentarem, pois vale a pena. É legal ver que outros estudantes, de diversas linhas de estudo para além da Dramaturgia, estão se interessando pela escrita. Minha dica é: escreva, confie, acredite, porque é possível e é importante ocupar esses espaços. Inclusive, ajudamos a abrir portas para os próximos. Falamos muito de ancestralidade, falamos muito de sankofa (símbolo africano que representa o retorno ao passado para aprender e ressignificar o presente, com o objetivo de construir o futuro), então pessoas negras escreverem é importante para abrir caminhos aos próximos.

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